Transtornos Alimentares





Em matéria exclusiva para a Gourmet Itupeva a psicóloga Nanci Giuliani Freire fala sobre transtornos alimentares, confira.



Transtorno alimentar (TA), se trata de um termo usado para designar qualquer padrão de comportamentos alimentares que causam severos prejuízos à saúde de um indivíduo. São considerados como patologias e descritos detalhadamente pelo CID10, DSMIV e pela OMS.

Geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência.

A maior incidência deste trantorno acontece na adolescência por consequências, na maioria das vezes, emocionais. O jovem vivencia um “luto” pela perda do corpo infantil, a perda da identidade infantil, a perda dos cuidados “infantil” dos pais, e a perda de um funcionamento proprio da sexualidade na infância.

Gostaria de pontuar que esses desafios que se dá na transição da infância para a adolescência tende a ser mais potencializado entre as meninas, que também tem que lidar com a menstruação e as formas corporais mais arredondadas.

Estas mudanças que se dá inicialmente na vida do jovem: status, o novo papel que ocupará na sociedade e na família, mudanças corporais, hormonais, comportamentais, enfim TODA construção da identidade, se faz presente como pano de fundo nos transtornos alimentares.

Todas essas transformações envolvem: o jovem, seus pais, família, amigos e escola.

Do mesmo jeito que pode ser bem dificultoso para os pais verem os seus filhos deixarem de ser crianças, os próprios adolescentes tambem sofrem com este processo.

De todas as transformações desta fase, as corporais é que tem maior implicação no mundo emocional de pacientes com transtornos alimentares.

Uma das possibilidades que temos para entender este processo que desencadeia o transtorno alimentar é tomá-lo como defesa diante da angústia despertada pelo novo corpo do adolescente, como se fosse uma forma de “brecar” esta nova forma corporal.

Para a construção de identidade, sabemos que o outro é uma referência importante. Construir uma identidade em primeiro momento é identificar-se com alguém para depois lhe tornar o que é próprio. Aí esta a importância das referências na vida do jovem, os pais e família, por exemplo, são aliados para minimizar a angústia e ansiedade nesta fase.

Então, além das mudanças corporais, sociais, psicológicas, formação da nova identidade, em especial para as meninas (cuja incidencia em transtornos alimentares é o maior numero) temos que pontuar uma questão bastante consideravel: o relacionamento com a mãe, principalmente neste período que fica confuso, pois a jovem primeiramente busca proteção na mãe como a forma sempre apresentada por ela (nutridora, acolhedora), mas ao mesmo tempo precisa se separar deste modelo, sente necessidade de se diferenciar-se dela.

A adolescencia é o momento de se reconhecer é uma constante metamoforse em busca da aceitação do outro e de si proprio.

Outro ponto bastante envolvente é a imagem “bombardeada” pela midia sobre o corpo perfeito, que muitas vezes, nesta fase de tantas mudanças, a jovem se frustra diante de suas alterações coporais.

A sociedade impoe uma magreza bela, onde explora a felicidade expressada nesta magreza.

O glamour do mundo fantastico da moda e da TV dita regras que as jovens normalmente em busca de si proprio, entende que não basta ser magra para ser feliz, o que esta em jogo é o imaginário de ter um corpo perfeito.

Em busca deste imaginário, normalmente a jovem, mergulha em escolhas inadequadas com relação a sua alimentação e avança para um trantorno alimentar, como por exemplo, Anorexia e Bulimia, entre outros transtornos igualmente graves que podem levar a grandes prejuízos para a saúde e infelizmente a morte.

Anorexia: Se dá pela grande perda de peso pode ser efetivada por: restrição dietética, exercícios físicos excessivos; e também podem abusar de técnicas purgativas (provocar-se vômitos, abusar de laxantes ou diuréticos).

Bulimia: os bulímicos passam por episódios (pelo menos duas vezes por semana) de comilança desenfreada que resultam num consumo de calorias muito superior ao de uma pessoa normal no mesmo período. Seguidos desses episódios, são por eles empregados vários hábitos que visam compensar o ganho calórico, entre os quais os mais usados são as técnicas purgativas.

No caso do bulimico, não há perda de peso excessiva.

Qual o perfil de uma anoréxica e bulímica?

A anoréxica pode ser descrita como “filha perfeita”, o  perfeccionismo predomina, e a busca para agradar as pessoas é o ponto central das suas relaçoes, onde suas referencias se dão na opínião dos outros.

Segundo Bruch (1973), por meio de sua inteligencia, vivacidade, obediência, obstinação e disciplina, a jovem com transtorno alimentar desenvolve uma aparente harmonia, que na verdade esconde um forte sentimento de ineficácia diante do mundo. As anoréxicas sentem-se como objetos nas mãos dos outros e não fazem nada pelo próprio desejo. Como forma de defenderem-se desse sentimento, de dóceis e obedientes passam a ser rígidas e exigentes com a alimentação e com o corpo, que precisam ser perfeitos e ideais em detrimento de sua propria personalidade em formação.

Por outro lado, a jovem bulimica apresenta um perfil caótico e baseado no tudo e nada. Segundo Lawrence (2003), as bulímicas idealmente querem exercer o controle, assim como as anoréxicas, mas não tem tanto sucesso e acabam frustradas ao não resistirem as comidas. De modo geral apresentam um comportamento impulsivo e desorganizado.

O que percebo em comum nestas jovens é que ambas vivenciam sentimentos de abandono, incapacidade de enfrentar as exigencias da propria vida. Ramalho (2001) aponta, que a angustia do abandono é central nestes casos, no qual a perda do objeto remete ao desamparo e portanto a separação é vivida como um abandono.

Pensando no processo de construção de identidade que descrevemos, o crescimento presume algumas perdas e uma maior autonomia, e, quando nos “desligamos” de nossos progenitores em busca do proprio caminho, vivenciamos este abandono, contudo no caso destas patologias a sensação de vazio e solidão é devastadora.

Para um tratamento adequado diante destes quadros, indico acompanhamento médico, psiquiatrico, psicologico, nutricional, somente um trabalho multidisciplinar pode reverter este quadro.

Penso que os pais tem um papel fundamental na vida da criança, do adolescente, além dos hábitos alimentares, que devem ser bons, uma rotina positiva, ambiente seguro no lar, os pais devem buscar ajuda psicologica diante de qualquer mudança de comportamento nos filhos e dificuldades na relação familiar (separação, brigas, lutos entre outros).

Para finalizar, aproximadamente 90% dos casos são de mulheres jovens, porém recentemente está havendo um aumento no número de transtornos em homens e em adultos de ambos os sexos. Esses transtornos atingem entre 1 e 4% da população e seguem aumentando de frequência significativamente nos últimos anos.



Nanci Giuliani Freire
Psicóloga Clínica
facebook.com/nancipsicologa
www.nancipsicologa.com.br
(11) 99641-7402



Referências utilizadas:
Bruch, H. Eating Disorders – Obesity, Anorexia Nervosa and Person Within. New York, 1973
Lawrence, M. Amando-os até a morte: a anoréxica e seus objetos, 2003.
Ramalho, R. Uma melancolia tipicamente feminina, 2001.

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